Sabe, no fundo eu sou um sentimental.
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de
lirismo ( além da sífilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas
em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente
chora...
Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.
E as minhas mãos o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa,
Mas meu peito se desabotoa.
Ostento a aguda empunhadora à proa,
Mas meu peito se desabotoa.
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa,
Pois que senão o coração perdoa.
Mais que depressa a mão cega executa,
Pois que senão o coração perdoa.
Ruy Guerra
Postado por Zé Mauro Nogueira, um invejoso
Lindo texto, Zé, lindo!
ResponderExcluirSe serve de consolo, há quem sinta inveja e vontade de ter escrito alguns de seus escritos...parabéns!
ResponderExcluirTem dias que a alma precisa de um afago, hoje é um deles. Muito obrigado, seja você quem for.
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