A maior pobreza do Brasil não é material. É de espírito:
educação, cultura, civilidade. E nesses últimos dias o país ficou ainda mais
pobre com a morte de João Ubaldo Ribeiro e Ariano Suassuna.
A pobreza material vem diminuindo. Gostemos ou não, a
política de redistribuição de renda adotada pelos governos do PT vem se
mostrando efetiva no meio de tantos desacertos. Pelo menos até este momento. E é visível pelos números, pelo
menos para os que não se deixam cegar pela ideologia ou pelo preconceito.
Mas a pobreza de espírito, essa, infelizmente, só me parece
crescer. Nesse aspecto nenhum governo parece ser capaz de propor qualquer
política que comece a mudar o quadro, que gere, ao menos, um ponto de inflexão.
Cotidianamente esta sociedade interage baseada em conceitos
equivocados. A falta de respeito às regras e ao que é coletivo, em minha
opinião, é a maior chaga. Não vejo nisso um problema de educação formal ou de
condição socioeconômica, os que estão no topo da pirâmide social talvez sejam os
mais avessos a seguirem as regras.
No elevador, no trânsito, na praia, na piscina de um hotel,
em uma fila de restaurante, em qualquer lugar, reina o abominável “jeitinho
brasileiro”, uma solidificada tendência à falta de educação, à desconsideração
do outro, ao desejo de levar vantagem.
Intelectualmente parece que estamos voltando à idade média.
O sistema de ensino é reflexo de nossa ideia mãe de levar vantagem em tudo:
estudar pouco, esforçar-se pouco e ainda assim sairmos educados e qualificados
de anos a fio de escolas e universidades. Uma mágica! Uma vez diplomados, ainda
que medíocres, bradamos em favor de nossos direitos, de nossas oportunidades,
de um apoio governamental. Ou divino. Somos um país que nega, mas adora o
paternalismo estatal, o que expõe outro traço marcante de nossa gente. Deus
dará!
Um país que não lê, que não sabe mais escrever, que não
privilegia nem valoriza o conhecimento ou a cultura. Um país de televisão e de televisão de péssima qualidade. Suassuna e Ubaldo eram mestres. Suassuna na construção de
personagens, Ubaldo no domínio da técnica e do estilo literário. Gente que
pensava, que se opunha às opiniões gerais, ao senso comum.
O Brasil está ainda mais pobre, de espírito.
Zé Mauro Nogueira