Poucas ideias são tão defendidas, valorizadas e promovidas
quanto a liberdade. Na política, na sociologia, na psicologia, nas artes, na
mídia, nos negócios (principalmente nos negócios!), enfim, ser livre é um dos
valores mais cultuados da humanidade.
Nada contra! Pelo contrário. Comungo do entendimento que ser
livre é condição sine qua non para a
possibilidade de uma plena existência humana. O que me estarrece, contudo, é a
ideia de liberdade que predomina hoje em dia: a possibilidade de alguém fazer exatamente
o que lhe convier.
Liberdade não é isso. Não pode ser isso. Ser livre não é ter
a possibilidade de fazer tudo o que lhe der na telha. Isso é mero exercício de
vontade, manifestação de capricho e, muitas vezes, compulsividade. Porque se estou condicionado a fazer algo, então não tenho realmente uma escolha.
E liberdade é, sim, a possibilidade de escolha. O que implica,
necessariamente, em responsabilidade. Cada escolha traz em si uma consequência
e uma renúncia. Uma pessoa é tão mais livre quanto mais puder escolher como
quer ser, verdadeiramente, desde que suas ações não atinjam o direito do outro,
do coletivo. Agir de acordo com sua vontade sem se preocupar com o que virá de
seus atos não é ser livre, é ser leviano, egoísta, irresponsável e
inconsequente.
Contudo, essa ideia equivocada de liberdade parece ser cada
vez mais dominante. O liberalismo mal interpretado parece ter trazido em si a
semente dessa distorção, embora não a tenha formulado, à medida em que coloca o
indivíduo como centro da vida, e não mais a sociedade.
A mídia e as manifestações culturais cultuam o “direito” de
fazer o que quiser, de consumir o que quiser e como quiser, de viver como
quiser, sem deter-se em limites quaisquer que sejam.
Penso que esse é um equívoco fundamental e pode ajudar a
explicar, em parte, a crise moral desta nossa sociedade, essa sensação de “não
tem mais jeito” que nos assola.
Enquanto não entendermos que o comportamento individual é
limitado pelo interesse coletivo, que há limites para cada um, não
conseguiremos começar a construir uma alternativa verdadeira. Enquanto acharmos
que a culpa é do outro, dos políticos, dos empresários ou do vizinho, não teremos
a menor chance.
Zé Mauro Nogueira