terça-feira, 3 de julho de 2018

Liberdade?


Poucas ideias são tão defendidas, valorizadas e promovidas quanto a liberdade. Na política, na sociologia, na psicologia, nas artes, na mídia, nos negócios (principalmente nos negócios!), enfim, ser livre é um dos valores mais cultuados da humanidade.

Nada contra! Pelo contrário. Comungo do entendimento que ser livre é condição sine qua non para a possibilidade de uma plena existência humana. O que me estarrece, contudo, é a ideia de liberdade que predomina hoje em dia: a possibilidade de alguém fazer exatamente o que lhe convier.

Liberdade não é isso. Não pode ser isso. Ser livre não é ter a possibilidade de fazer tudo o que lhe der na telha. Isso é mero exercício de vontade, manifestação de capricho e, muitas vezes, compulsividade. Porque se estou condicionado a fazer algo, então não tenho realmente uma escolha.

E liberdade é, sim, a possibilidade de escolha. O que implica, necessariamente, em responsabilidade. Cada escolha traz em si uma consequência e uma renúncia. Uma pessoa é tão mais livre quanto mais puder escolher como quer ser, verdadeiramente, desde que suas ações não atinjam o direito do outro, do coletivo. Agir de acordo com sua vontade sem se preocupar com o que virá de seus atos não é ser livre, é ser leviano, egoísta, irresponsável e inconsequente.

Contudo, essa ideia equivocada de liberdade parece ser cada vez mais dominante. O liberalismo mal interpretado parece ter trazido em si a semente dessa distorção, embora não a tenha formulado, à medida em que coloca o indivíduo como centro da vida, e não mais a sociedade.

A mídia e as manifestações culturais cultuam o “direito” de fazer o que quiser, de consumir o que quiser e como quiser, de viver como quiser, sem deter-se em limites quaisquer que sejam.

Penso que esse é um equívoco fundamental e pode ajudar a explicar, em parte, a crise moral desta nossa sociedade, essa sensação de “não tem mais jeito” que nos assola.

Enquanto não entendermos que o comportamento individual é limitado pelo interesse coletivo, que há limites para cada um, não conseguiremos começar a construir uma alternativa verdadeira. Enquanto acharmos que a culpa é do outro, dos políticos, dos empresários ou do vizinho, não teremos a menor chance.



Zé Mauro Nogueira