domingo, 18 de outubro de 2020

Friends

 

Acho que era 2007, sei lá. Fazia pouco tempo que eu havia terminado um casamento, e nunca é a coisa mais fácil do mundo.

Comecei a sair com o Daniel, depois vieram o Murilo, a Suzy, a Giovana, a Ilana e a Monique. Um grupo de adultos ainda jovens e com uma coisa em comum: todos mais ou menos recém separados.

Rapidamente instalou-se uma amizade muito próxima, e de alguma forma, todos se apoiaram no desafiador processo de reajustar a vida e a identidade pós separação.

Tempos de saídas quase diárias, numa Natal boêmia de Sgt. Peppers em Petrópolis, Taverna Pub, Buraco da Catita original, Aprecie e tantos outros bares e opções para encontros de amigos.

E quando não eram os bares, eram as reuniões na casa de alguém (quase sempre da Giovana), com comida, bebida e muita risada.

Abaixo, um pequeno texto, a la Mario Prata, de alguma passagem com cada um desses queridos amigos, que o distanciamento social e o tempo afastam fisicamente, mas não apagam da memória e do coração. Murilo e Daniel com postagens mais adiante já publicadas no blog.

Como disse García Márquez, “a vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la”.


Zé Mauro Nogueira



Giovana - amiga

 Natal ainda não vivia essa guerra civil de hoje e o Douglas ainda abria o seu Nugrau em noites especiais de lua cheia. E românticos contraventores, tomávamos todas as mofadas e inúmeras CGCs e voltávamos para casa felizes. E inteiros.

Numa dessas noites, dou a ideia: vamos finalizar com um banho de mar. Para minha surpresa, o disparate encontra eco e Giovana é a primeira a aderir. Além de quase bêbados, dessa vez chegamos em casa também molhados.

Sempre assim, sempre pronta a apoiar e ajudar, Giovana era também a anfitriã dos saudosos jantares daquele grupo de friends do Rio Grande do Norte.


Zé Mauro Nogueira



Monique - amiga

 

Havia um bar em Ponta Negra chamado Aprecie, numa praça para os lados da Rua da Lagosta. Vez por outra o Daniel se metia a cantor por lá junto com o Sarkis e íamos prestigiar. E beber.

Numa dessas noites aparece uma garota de cabelos cacheados amiga da galera e fica sentada no balcão, meio destreinada daquilo tudo. O Murilo dá uma boa olhada e dispara: “Vou pegar!”.

Não pegou.

Mas dias depois, já noutra balada e noutro bar, a garota já estava mais solta e enturmada. Cabeção que sou, quis saber a história: havia acabado de sair de um casamento. Como todos nós ali.

Afinidade e amizade à primeira vista e lá se vão bem mais de 10 anos.


Zé Mauro Nogueira



Ilana - amiga

 

Nem sei mais que copa do mundo foi aquela, mas faz um tempão, eu ainda suportava essa coisa de futebol e “seleção brasileira”.

Fomos assistir o jogo na casa dos pais da Suzy, que estavam viajando. Quando terminou, resolvemos ir esticar em algum lugar para continuar bebendo.

Ao fechar a casa para sair, o alarme dispara. Em poucos segundos surge a Ilana com a cara mais travessa do mundo se ajeitando toda, seguida do Murilo.

Essa mulher é um dos espíritos mais livres que já conheci.


Zé Mauro Nogueira




Suzy - amiga

 A gente estava indo para a abertura do carnaval em Recife. O Tuca ia no banco de trás e anunciou que a Suzy, sua ex mulher, ia também com umas amigas.

O Daniel vira pra ele e pergunta: fica chateado se eu ficar com ela? Todo altivo e moderno, responde: acho massa, ela é linda e super legal.

Virou romance.

Um dia conversavam sobre um barulho que o carro dela estava fazendo sempre que faziam uma curva. Levaram ao mecânico e nada. 

Dias depois o mistério é solucionado: uma garrafa de vodca solta embaixo do banco.


Zé Mauro Nogueira




quinta-feira, 27 de agosto de 2020

A grande lição

 



Sou um ser provavelmente mais errante do que a média, ou por essência ou por atraso no processo evolutivo, tanto faz. Da vida fui fazendo o que soube, o que pude, o que me ocorreu, movido por desejos nem sempre nobres e limitado por medos nem sempre percebidos. Certamente errei demais!

Mas tenho total convicção de que tudo já valeu a pena por pelo menos um aspecto: a paternidade. Nisso descobri uma dimensão totalmente nova, de mim mesmo e do universo. Hoje faz dezesseis anos que me tornei pai. E agradeço cada dia, cada vivência dessa alucinada jornada que tanto me ensina.

Ser pai (ou mãe, claro), acredito piamente, é o mais intenso dos acontecimentos que o destoante homo sapiens pode experimentar. É a manifestação absoluta da força biológica que nos define e que, por mediocridade e soberba, tendemos a negar.

A natureza é perfeita em si, nada é fora de lugar ou de tempo, nada é bom ou mau. Tudo flui como só pode fluir. E criar um filho é aprender a integrar-se a esse fluxo da vida, às vezes alegra, às vezes entristece, mas sempre enche a existência de significado, ou propósito.

Ao meu filho, Pedro, feliz aniversário!

 

Zé Mauro Nogueira