Confesso que só entendi no exato segundo em que o vi pela
primeira vez, a médica segurando-o pelos tornozelos, ainda quieto. Tava todo
melado de um negócio, meio branco, ainda por cima deu trabalho pra respirar, o
preguiçoso. Ali, naquele exato segundo, percebi: fudeu!
Daquele instante em diante dediquei toda a energia de minha
alma para construir a melhor relação possível entre pai e filho. Mesmo nos
momentos mais sofridos da precoce separação, juntava meus cacos para ter meu
tempo com ele, dar comida, dar banho, trocar fraldas, brincar, sem empregadas,
sem babá. Só eu e ele numa casa improvisada.
Eu não tinha tido um
pai presente, então, custasse o que custasse, meu filho teria um pai em sua
vida. E seria eu mesmo. E se há uma coisa que eu não desejo nem para um filho
de uma égua, é uma separação com filho pequeno.
Um dia, ele já crescidinho, com uns 05 anos, estou eu no
meio de uma reunião quando recebo um chamado para ir às pressas para a escola
dele. Pedro caiu e estava com o braço aparentemente quebrado.
Quando chego lá, ele está deitado em uma sala de aula,
rodeado por professoras e pela mãe, braço inchado, cara de choro, mas sem
chorar. Ele mesmo me diz o que aconteceu e avisa que está esperando a
ambulância. Está tenso, com dor, mas mantém uma postura calma, dando a impressão
de que tenta nos poupar de maiores preocupações.
Quando o SOS Unimed chega, é constatada a fratura do braço
direito, que é logo imobilizado. Eu tentava aparentar calma também, mas por
dentro estava uma pilha de nervos. A paramédica informa que ele irá para o
hospital e que só um dos dois, a mãe ou o pai, pode ir na ambulância com ele.
Nem pestanejei, olhei para a Camila e disse: “Pode ir, eu
vou seguindo de carro”. Sempre acho que as mães têm prioridade nessas horas.
Aí, para espanto geral e para ficar marcado como um dos
momentos mais emocionantes da minha vida, ele fala baixinho: “Não, quem vai
comigo é o meu pai”. Jamais vou esquecer o que senti ali.
Durante muito tempo me emocionei contando essa história. Não
por achar que ele me amasse mais do que à mãe dele, de jeito nenhum. Mas por
ter tido a certeza de que tinha conseguido construir, com muita dedicação e
amor, uma relação verdadeira de amizade e confiança com meu filho.
Hoje, Pedro completa 08 anos.
Zé Mauro Nogueira