Todo mundo sabe a fábula da rã e do escorpião, né? Aquela em
que o sacana do peçonhento ferra o anuro no meio do rio, matando ambos,
porque não conseguiu controlar sua natureza. Esse dilema é uma das grandes
questões humanas.
Fritz Perls, também no campo metafórico dos animais, falou
da águia e do elefante. Cada um se realiza sendo exatamente o que é. Que
absurdo seria o elefante querer voar, fazer ninhos e botar ovos; e que tristeza
seria a águia querer ter tamanha força e pele grossa.
Assim deveriam ser os seres humanos. Deveríamos aceitar a
nossa própria natureza. Nem apenas aceitar, deveríamos valorizar a nossa
natureza, tirando proveito de nossas qualidades e dando um pouco menos de valor
às nossas limitações.
Um exemplo? Já imaginou eu fazendo força para ser sociável e
simpático como o Daniel, o amigo insuportável personagem do texto abaixo? Não
ia funcionar, ia ser falso, eu só iria ficar frustrado e talvez afastasse todo
mundo de vez. Não, não tem jeito, eu sou mesmo é esse sujeito arredio, seletivo
e desconfiado, mas fiel, generoso e cuidadoso com quem passa no meu crivo. Bom
ou mau, sou quem eu sou.
O Caetano diz numa música uma grande verdade: “cada um sabe
a dor e a delícia de ser o que é”. E isso vale para qualquer um. Há dor e gozo
em cada jeito de viver e se posicionar no mundo.
Não quero dizer com isso que devamos abrir mão de buscar
evolução e sabedoria. Síndrome de Gabriela (eu nasci assim, eu cresci assim,
vou ser sempre assim) também não vai fazer ninguém feliz. E conhecer a si
mesmo, seus maiores medos e anseios, é talvez o melhor caminho para mudar
comportamentos, sem, com isso, tentar mudar a essência. Pelo contrário,
conectar-se cada vez mais com ela.
Muitas vezes nossas atitudes são mecanismos neuróticos de
autoproteção, fruto de medos e dificuldades de travar contato com certas
vivências. Medo de sentir dor, medo de ser rejeitado, medo da solidão, enfim,
há sempre o que apavore o ser humano e o faça agir defensivamente, ainda que
isso signifique sabotar a própria felicidade, a própria natureza.
Seja como for, só resta uma certeza: ninguém é igual a
ninguém. E se é tão difícil para cada um aceitar a si mesmo, imagina aceitar o
outro? Por isso é tão fácil confundir os sentimentos, mas isso já é outra
história.
Zé Mauro Nogueira
Ler este texto dá até medo....de tanta verdade que diz...de tão desnuda que fico.
ResponderExcluirDe perto ninguem é normal, e tanto o sujeito sociavel quanto o introvertido sentem medo da rejeicao.
ResponderExcluirBelo texto Ze!
Lindamente insuportável! Rsrsrs
ResponderExcluirBem você! Amei o texto.
Aguarde!!!! rs
ExcluirSensacional essa análise. Desde que o Vinícius nasceu (meu filhote com síndrome de Down), percebi que ser diferente é normal. Viva a diferença! Posso inferir que essa ''simpatia'', essa ''generosidade'', esse ''desapego'' ao qual ele se refere sobre mim vem muito disso. Tudo bem, temos tendências genéticas e ontogênicas de reagir de forma diferente frente aos fatos. Uns mais tolerantes, outros menos. Normal. Tão normal que posso afirmar (não inferir) que me identifico e admiro quem difere de mim. Mais do que isso, aprendo com quem age num outro modus operandi. O Zé Mauro me ensinou a me comportar no mundo corporativo. No mundo afetivo (com ressalvas) e no mundo espiritual. Sua alma inconformada nos ensina que ''cada um sabe a delicia de ser o que é'', como ele bem parafraseou. Obrigado amigo.
ResponderExcluirValeu, velho ... cuidado pra não deixar a gravata te enforcar, o mundo corporativo, público ou privado, é um grande moinho!
ExcluirÉ isto aí. O nó, meu caro, é descobrir a tal da natureza interior. Passamos a vida, alguns de nós, tentando descobrir, mas volta e meia caímos em falsas auto-imagens e nas miragens que isto acarreta. Uma coisa ajuda muito: não se levar muito a sério e perceber que o tempo passa e coisas muito simples, como tomar uma cerveja com um amigo, valem mais que grandes conquistas e reconhecimento alheio.
ResponderExcluirMuito massa, amigo! É exatamente isso.
ExcluirAguardando já "a outra história" dita nas últimas palavras do texto. Que venha logo "a confusão de sentimentos". rsrsrs
ResponderExcluirValeu Zé, gostei de cada palavra. Um grande abraço, Nelson
ResponderExcluirComandante, sua visita aqui é uma honra! Abração.
ExcluirOi Zé! Adorei! Simples, profundo e reflexivo. E como o Jaime diz, "o nó,.., é descobrir a tal da natureza interior." Ah! e tomar uma cerveja (ou vinho) com um amigo também está valendo. Até!
ResponderExcluirValeu, Patricia!
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