Isso deve ter uns 4 anos. Tudo em mim pedia por uma parada
geral, por um desligamento do mundo. Alguém então me falou de Nelson, Lúcia e o
Avoante. Um casal que vivia em um veleiro e que poderia nos acolher por uns
dias à bordo.
Em um píer no bairro da Ribeira, em Salvador, embarquei no
Avoante, uma embarcação pequena, mas valente, aconchegante como casa de mãe, para 4
dias de velejadas pela Baía de Todos os Santos.
Paixão à primeira vista. Pela vela, pelo veleiro, por Nelson
e Lúcia e por aquela vida tão simples e diferente da minha e que eu nem sabia
que existia. Dormir ao balanço do mar, olhando apenas o clarão das estrelas,
foi algo que me tocou profundamente. E a partir dali o mar da Bahia virou meu
destino sempre que a correria da vida em terra permitia. A ponto de eu mesmo
comprar um veleiro e acalentar sonhos de libertação por quase um ano.
Certo dia, recebo a notícia de que haviam vendido o Avoante.
Tinham vivido nele por mais de 10 anos, mas era necessário. Aquele não era
apenas um barco, era um pedaço de suas almas, era o ente tangível que lhes
ancorava um modo de vida.
A tristeza me bateu. Não conseguia ver Nelson e Lúcia em
terra firme. Temi por sua felicidade, desconfiei que não conseguiriam mais se
adaptar.
Hoje, vez por outra, entra uma mensagem de whatsapp do “Comandante”,
direto de sua casa na praia de Enxu Queimado, no litoral do Rio Grande do
Norte. Às vezes é uma foto das delícias preparadas por Lúcia, às vezes um post
do preservado e ativo Diário do Avoante (diariodoavoante.wordpress.com), ou às
vezes apenas uma bela foto da natureza deslumbrante do lugar com um sincero “Bom
dia, meu amigo”.
Nunca senti em sua voz uma ponta de ressentimento. Nunca um tom de
melancolia, nunca um maldizer a vida, sempre a mesma alegria, generosidade e simplicidade
que conheci e aprendi a admirar a bordo do Avoante.
Obrigado por mais uma lição, além da vela, Comandante!
Zé Mauro Nogueira
Caro e bom amigo, você disse que tinha escrito, mas não adiantou para preparar os olhos e voz para não denunciarem a emoção. - O que temos mais a dizer? - Claro, muito obrigado e um beijo, Lucia e Nelosn
ResponderExcluirSempre, sempre grato, Comandante!
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