segunda-feira, 14 de maio de 2018

O bêbado e o perdido


Eu tinha 22 anos quando cheguei para morar em Miami. Absolutamente sozinho. Ninguém me esperava no aeroporto, eu não tinha nenhum contato na cidade, nunca tinha estado nos Estados Unidos antes e não tinha a menor certeza de que daria conta da tarefa que fui para cumprir.

Mais assustado, impossível. Cheguei num final de tarde ensolarado, quente pra caramba. Assim que entrei no apartamento que meu pai tinha alugado para mim, senti o peso da situação. Larguei a mala em cima da cama, fui até a varanda olhar a cidade e ficou claro que só havia uma coisa a fazer para acalmar: beber!

Sem conhecer a cidade, sem internet para pesquisar no Google (era 1991) e sem carro, só me restou sair andando a esmo até encontrar uma loja de bebidas. Uns 30 minutos depois, passaporte mostrado para comprovar a maioridade, saí da liquor store carregado.

Logo na esquina, um semáforo. Quase ninguém na rua, quase noite. Esperávamos para atravessar, eu, de um lado, e um sujeito aparentemente alcoolizado, do outro. Quando fechou, andamos um em direção ao outro. Então, o bêbado parou bem na minha frente e, incrivelmente, foi na veia: Welcome to America, guy!

Eu devia parecer muito perdido mesmo. E estava tão atordoado que custou um tempinho até me dar conta do que tinha acabado de acontecer e abrir meu primeiro sorriso em solo americano.

Ah, bêbado vidente!


Zé Mauro Nogueira

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