Eu tinha 22 anos quando cheguei para morar em Miami. Absolutamente
sozinho. Ninguém me esperava no aeroporto, eu não tinha nenhum contato na
cidade, nunca tinha estado nos Estados Unidos antes e não tinha a menor certeza
de que daria conta da tarefa que fui para cumprir.
Mais assustado, impossível. Cheguei num final de tarde
ensolarado, quente pra caramba. Assim que entrei no apartamento que meu pai
tinha alugado para mim, senti o peso da situação. Larguei a mala em cima da
cama, fui até a varanda olhar a cidade e ficou claro que só havia uma coisa a
fazer para acalmar: beber!
Sem conhecer a cidade, sem internet para pesquisar no Google
(era 1991) e sem carro, só me restou sair andando a esmo até encontrar uma loja
de bebidas. Uns 30 minutos depois, passaporte mostrado para comprovar a
maioridade, saí da liquor store
carregado.
Logo na esquina, um semáforo. Quase ninguém na rua, quase
noite. Esperávamos para atravessar, eu, de um lado, e um sujeito aparentemente
alcoolizado, do outro. Quando fechou, andamos um em direção ao outro. Então, o bêbado
parou bem na minha frente e, incrivelmente, foi na veia: Welcome to America, guy!
Eu devia parecer muito perdido mesmo. E estava tão atordoado que custou um tempinho até me dar
conta do que tinha acabado de acontecer e abrir meu primeiro sorriso em solo
americano.
Ah, bêbado vidente!
Zé Mauro Nogueira
Zé Mauro Nogueira
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